{"url":"https://www.zooplus.pt/magazine/caes/saude-do-cao-e-cuidados/epilepsia-nos-caes","title":"Epilepsia nos cães","mag_id":225890,"is_single":true,"cat_name":"Cães","sub_cat_id":2160,"sub_cat_name":"Saúde do cão e cuidados","cat_id":2133}
A epilepsia é uma doença neurológica e resulta de desequilíbrios na atividade elétrica e na transmissão de estímulos de grupos de neurónios em certas partes do cérebro. Por definição, um cão tem epilepsia quando, por exemplo, tiver pelo menos dois ataques epiléticos com mais de 24 horas de intervalo.
Por outro lado, um ataque epilético pode dizer respeito ao aparecimento de alguma doença num determinado momento. Já que o mecanismo exato ainda não foi estudado a fundo, os investigadores assumem que existe um desequilíbrio entre a excitação e a inibição neuronal. Um efeito estimulante é causado pelo glutamato monossódico ou pelo aminoácido aspartato. Pelo contrário, o neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA) tem um efeito inibitório nas células nervosas.
Causas da epilepsia nos cães
São muitas as doenças que podem provocar epilepsia nos cães. Os veterinários fazem a distinção entre duas formas da doença: epilepsia sintomática, de causa conhecida, e epilepsia idiopática.
A epilepsia sintomática pode ser desencadeada por variadas doenças:
Anomalias (por exemplo, hidrocefalia)
Traumatismo (por exemplo, lesões na cabeça)
Tumores
Problemas no fígado e rins
Infeções/inflamações
Nível de açúcar no sangue baixo
Intoxicação
Raramente: doenças lisossomais de sobrecarga
A epilepsia idiopática é, porém, bastante mais comum. Os animais afetados têm entre um a cinco anos no momento do primeiro ataque. Inicialmente, as crises ocorrem com intervalos longos. Raças como schnauzer, cocker spaniel e caniche são especialmente afetadas.
Sintomas da epilepsia nos cães
De modo geral, os ataques epiléticos nos cães tem quatro fases diferentes:
Fase prodrómica = os animais afetados mostram-se inquietos algumas horas ou dias antes da crise
Aura = a maioria dos cães procura a proximidade dos donos e pode apresentar alterações no comportamento
Ictus = o cão mostra os sintomas principais já mencionados
Fase pós-ictal = fase de recuperação
Alguns sinais de doença podem surgir durante estas fases:
Quedas repentinas
Convulsões tónicas (músculos tensos) e clónicas (contrações dos músculos)
Urinar e defecar involutariamente
Desmaios
Movimentos de mastigação
Halucinações (por exemplo, apanhar moscas, frenesi, ladrar ou morder a cauda)
Produção excessiva de saliva (salivação)
Mudanças comportamentais
As crises epiléticas variam em gravidade e dividem-se em várias formas de acordo com a duração e ocorrência dos sintomas. Merecem especial destaque duas formas de ataque epilético:
Status epilepticus
Tratam-se de ataques com mais de cinco minutos de duração ou dois ou mais ataques sucessivos entre os quais o cão não recupera a consciência. Nesta situação é urgente consultar um veterinário, pois a crise pode pôr em risco a vida do animal.
Crise em salva ou cluster
Quando um cão tem duas ou mais crises em 24 horas, fala-se de crises em cluster. Já que o aumento da frequência das crises é sinal de que a medicação deve ser ajustada, é importante ir ao veterinário.
Diagnosticar a epilepsia nos cães faz-se através de um diagnóstico de exclusão. Em primeiro lugar, o veterinário recolhe informações importantes ao questionar detalhadamente o dono (anamnese). Detalhes como a administração prévia de medicamentos, a ingestão de substâncias tóxicas ou uma predisposição familiar podem acelerar o diagnóstico. Vídeos dos ataques podem também ser bastante úteis. Após um exame clínico geral, o médico faz também um exame neurológico. São realizadas várias análises e testes:
Análise ao sangue: para excluir causas orgânicas
Radiografia torácica e abdominal: para detetar quaisquer metástases ou tumores
Ressonância magnética ou tomografia computorizada
Análise de líquido cefalorraquidiano
Eletroencefalografia
Tratamento da epilepsia nos cães
O que fazer se o meu cão tiver um ataque epilético?
Por muito assustador que seja ver o seu patudo a ter um ataque epilético, a verdade é que não há muito que possa fazer por ele nesse momento. Se o animal evidenciar sinais de crise iminente, leve-o para um local, de preferência tranquilo, onde as probabilidades de se magoar sejam as mais baixas.
Por favor, não tente puxar a língua do animal para fora da boca. Numa situação destas, o patudo não tem controlo sobre os maxilares. Portanto, o risco de ser mordido é elevado.
Documente o ataque da forma mais precisa possível. Um vídeo ou uma descrição detalhada são fontes de informação preciosas para o veterinário. A duração do ataque, em especial, deve ser anotada.
Se não se tratar de status epilepticus, por favor não tente ir com o patudo para o veterinário durante a crise. Na verdade, o mais provável é chegarem à clínica depois do ataque. E será muito mais fácil o animal recuperar no seu ambiente habitual.
Quais os tratamentos a longo prazo para a epilepsia idiopática?
Se o seu patudo foi diagnosticado com epilepsia idiopática e a frequência das crises aumentar, o veterinário dará início ao tratamento a longo prazo. O objetivo é reduzir tanto a frequência como a duração e a gravidade das crises. Para tal, estão disponíveis vários medicamentos; poderão ter que ser usados em combinação. Até que seja encontrada a dosagem certa, o veterinário fará exames a intervalos cada vez maiores. Para o caso de ocorrerem ataques especialmente graves, o médico irá falar consigo acerca da administração de medicação de emergência.
Que tratamentos existem para a epilepsia sintomática?
Neste caso, o tratamento depende inteiramente da causa. Podem ser iniciados tratamentos promissores para algumas doenças, mas a verdade é que também existem doenças subjacentes sem cura.
Prognóstico da epilepsia nos cães
Embora a forma idiopática da epilepsia nos cães não tenha cura, na maioria dos casos é bem controlada por dono e veterinário se a medicação for a certa. Pelo contrário, o prognóstico da epilepsia sintomática e extracerebral depende em grande parte da doença subjacente. Para o sucesso do tratamento são importantes um método terapêutico adequado, a cooperação entre dono e veterinário, o reconhecimento atempado dos primeiros sintomas e a correta administração dos medicamentos.
Prevenção
Infelizmente, a epilepsia nos cães não pode ser prevenida. Porém, uma boa cooperação com o veterinário pode reduzir a dimensão das futuras crises epiléticas.
Franziska G., Veterinária
Estudei medicina veterinária na Universidade Justus-Liebig em Gießen, onde pude ganhar alguma experiência em vários campos, como medicina para pequenos e grandes animais, medicina exótica, farmacologia, patologia e higiene alimentar. Desde então, não trabalhei apenas como autora veterinária. Também trabalhei na minha tese, que foi influenciada cientificamente. O meu objetivo é proteger melhor os animais contra patógenos bacterianos no futuro. Além do meu conhecimento, partilho as minhas próprias experiências como dono de um cão e, assim, consigo entender e dissipar medos e problemas, bem como outras questões de saúde animal.
A castração constitui um procedimento de rotina na medicina veterinária – mas será sempre recomendada? Qual a diferença entre castração e esterilização?