Alergias em cães

Alergias em cães

Alergias em cães

1. Causas das alergias

Quando um cão se coça com frequência, muitas vezes pensa-se em parasitas como sendo a primeira causa. Mas há outras razões que podem originar o prurido, como é o caso das alergias. O número de cães afetados por alergias e o número de doenças alérgicas tem vindo a aumentar.

As alergias que mais afetam os cães são a alergia à saliva da pulga, a alergia ambiental (atopia) e a alergia alimentar. Todos estes tipos de alergias provocam mais ou menos os mesmos sintomas nos cães e é por isso que o diagnóstico muitas vezes pode ser difícil. Além disso, o cão pode sofrer de várias alergias em simultâneo.

Até à data não é conhecida qualquer predisposição de alguma raça particular à alergia a pulgas, além deste tipo de alergia afetar tanto machos como fêmeas. Geralmente, esta alergia é causada pela pulga do gato sem outra especificação (Ctenocephalides felis), embora outras espécies de pulgas possam também originar esta conjuntura. A alergia a pulgas pode ocorrer em qualquer idade, mas não antes do sexto mês de vida. Este tipo de alergia é desencadeado por proteínas na saliva da pulga. A picada da pulga não só retira sangue do cão, mas também injeta a saliva da pulga. O resultado pode verificar-se através duma reação imediata (reação Tipo I), em que o corpo reage em 30 minutos, ou uma reação retardada (reação Tipo IV), com sintomas que podem ocorrer algumas horas após a picada ou apenas 2 dias depois. A maioria dos cães com contacto esporádico com pulgas é afetada por este tipo de alergia. Os cães com contacto muito frequente com pulgas podem desenvolver uma tolerância.

A atopia (alergia ambiental) atinge cerca de 15% da população canina. Ao contrário da alergia à saliva da pulga, há algumas raças que têm predisposição para desencadear este tipo de alergia, nomeadamente os Terrier, Golden Retriever, Labrador Retriever, Dálmata, Pastor Alemão, BoxerBuldogue Inglês, Setter Inglês e Irlandês e o Shar Pei. A doença geralmente ocorre entre o primeiro e terceiro ano de vida, muito raramente antes do sexto mês de vida ou em cães mais velhos.  Uma condição para o início da atopia é a predisposição do cão a reagir excessivamente a um alergénio. Estes cães respondem a substâncias ambientais inofensivas, como pólen, gramíneas, ácaros, fungos com uma produção de anticorpos forte e inadequada, o que causa uma reação sequencial inflamatória excessiva com danos nos tecidos. Os sintomas podem ser observados sazonalmente em reações a gramíneas, por exemplo. Os alergénios entram no corpo através do trato respiratório ou da pele.

Relativamente às alergias alimentares, não existe predisposição em qualquer raça ou género e podem surgir em qualquer idade. Uma alergia alimentar manifesta-se quando o cão faz uma determinada dieta por um longo período de tempo antes de ter uma reação excessiva à mesma. Num animal saudável desenvolve-se uma tolerância imunológica contra os ingredientes da ração. No entanto, se a função protetora da mucosa intestinal for reduzida, os alergénios podem danificar a barreira intestinal e desencadear uma reação alérgica. De acordo com estudos científicos recentes, os alergénios que afetam os cães são proteínas ou compostos de proteínas com uma determinada dimensão, contidos na ração.

Qualquer proteína pode, por isso, levar a reações alérgicas e a probabilidade aumenta com a frequência da ingestão. As substâncias alergénicas mais comuns são a carne bovina, leite e laticínios, ovos, trigo e carne de frango. As alergias alimentares podem provocar reações imediatas ou retardadas ou até uma combinação de ambas. Como tal, os sintomas podem ocorrer logo 30 minutos após a ingestão do alimento, ou algumas horas ou mesmo dias ou semanas após a ingestão da substância alergénica.

2. Sintomas de alergias

O principal sintoma típico das alergias é a comichão. No caso de alergia a pulgas, o prurido manifesta-se sobretudo na metade traseira do corpo, na parte de trás das costas, garupa, base da cauda, patas traseiras e abdómen. Os cães coçam e esfregam essas zonas do corpo, o que muitas vezes causa um designado “hot spot”, uma ferida inflamada e com secreção, causada pelo prurido intenso. Essas áreas são frequentemente colonizadas por bactérias e leveduras, o que intensifica ainda mais a comichão. No caso de se tratar de atopia ou de alergia alimentar, o prurido é muito semelhante, dificultando a distinção. A comichão é mais frequente na área da cabeça, patas, ombros, abdómen e área interna das coxas e orelhas. As inflamações na zona das patas ocorrem entre os dedos e na parte inferior das patas, nas orelhas a inflamação manifesta-se no canal auditivo externo. É frequente as bactérias e leveduras atacarem a pele danificada, causando infeções (infeção secundária) e prurido adicional. Além disso, a alergia alimentar pode ser acompanhada por sintomas gastrointestinais, como vómitos, diarreia, inchaço, dor abdominal intensa e fezes moles.

3. Diagnóstico de alergias

Uma vez que os sintomas de cada tipo de alergia são muito semelhantes, o diagnóstico é um verdadeiro desafio. Para além de que um cão pode sofrer de vários tipos de alergia em simultâneo. De resto, não existem testes confiáveis e fáceis de realizar que distingam as alergias. Como tal, uma alergia é identificada por diagnósticos de exclusão. Além disso, um histórico detalhado da saúde do animal e a sinalização, se for o caso, podem fornecer pistas úteis. Estes incluem raça, sexo, idade, idade no início dos sintomas, localização da comichão ou sintomas de pele, presença de sintomas semelhantes em irmãos de ninhada ou pais dos animais afetados e sazonalidade dos sintomas.

Mesmo que os sintomas não indiquem alergia a pulgas, esta hipótese deve ser excluída no início. O veterinário examina o cão com um pente para pulgas e fezes de pulgas. Caso encontre alguma, então confirma a suspeita. Também pode ser usado um teste intradérmico para o diagnóstico. Neste teste, os alergénios de pulgas e substâncias de controlo são injetados na pele, na parede torácica, e tratados após 15 a 30 minutos, 4 a 6, 24 e 48 horas após as reações alérgicas. Além disso, existem exames de sangue para o diagnóstico de alergia a pulgas, mas apenas fornecem informações para reações do tipo I. Outro caminho possível é o da chamada terapia diagnóstica. O cão e todos os animais que vivem no agregado familiar são tratados com preparações adequadas para as pulgas. A alergia a pulgas é provável se a tentativa de terapia ocorrer.

Para confirmar ou excluir uma alergia alimentar, de acordo com as recomendações dos dermatologistas, tal só faz sentido usando uma dieta de exclusão ou uma dieta de eliminação. O cão deve ser alimentado com este tipo de dieta por um período de, pelo menos, oito semanas com uma fonte de proteína e uma fonte de hidratos de carbono, que nunca ingeriu antes. Uma vez que nunca teve contacto com estas substâncias, não vai fazer reação. Durante o período da dieta, não deve ser dado ao cão mais nada para comer. Caso coma snacks ou recompensas, estas devem ser com os mesmos ingredientes da ração da dieta. Os dermatologistas recomendam uma dieta caseira. Se o dono não tem condições para tal, tem ao dispor no mercado várias dietas com ingredientes hidrolisados, nas quais os componentes são tão pequenos que o organismo não consegue reconhecê-los como alergénios. De resto, pode também optar por dietas monoproteicas. Os sintomas devem melhorar significativamente durante o período do tratamento. Logo que tal aconteça, deve fazer-se um teste com a ração que o cão comia antes de começar a dieta de exclusão ou eliminação. Se os sintomas regressarem, fica confirmado que se trata duma alergia alimentar.

O diagnóstico de atopia é feito clinicamente e excluindo outras doenças. Este diagnóstico pode ser feito logo que os sintomas, a idade, o padrão do prurido e outros aspetos sugestivos de atopia, bem como outras causas da comichão, tenham sido cuidadosamente excluídos. Nestes casos, o veterinário pode realizar testes específicos para identificar os alergénios que desencadeiam o problema. É adequado fazer um teste intradérmico, através do qual os alergénios são injetados na pele e é assim possível analisar as reações. Este teste deve ser sempre realizado por um dermatologista experiente. Da mesma forma, um teste de alergias através da colheita de sangue é outra possibilidade, mas pode revelar reações enganadoras, reações positivas falsas.

4. Terapias para tratar alergias

A melhor terapia para alergias é evitar o alergénio que as desencadeia, mas isso pode ser difícil dependendo da alergia. O tratamento da alergia à saliva da pulga consiste num controlo persistente e na profilaxia. Da mesma forma, outros animais domésticos com os quais o cão em causa coabita devem ser tratados regularmente com antiparasitários, de modo que o cão alérgico não tenha nenhum contacto com pulgas. Além disso, o tratamento e limpeza completa do ambiente onde o animal vive são igualmente necessários, em particular no caso de haver também pessoas alérgicas à infestação de pulgas. Se se verificar prurido, pode ser tratado com terapias adequadas para evitar infeções secundárias.

No caso de se tratar de alergia alimentar, o facto de se conseguir identificar o alergénio desencadeante (p.ex. carne bovina) é benéfico, já que o cão pode continuar a receber alimento normalmente exceptuando o agente alergénico. Se não for possível identificar o agente desencadeante da alergia ou se o cão reage de forma excessiva a várias proteínas, então é sempre possível passar a fazer uma dieta à base de ingredientes hidrolisados. Já existem no mercado alimentos que contêm insetos como fonte de proteína, o que representa uma nova abordagem para o diagnóstico e tratamento de cães alérgicos a proteínas de outras origens. O tratamento da comichão provocada por alergias alimentares não tem bons resultados com medicação à base de glicocorticóides ou anti-histamínicos, estas terapias são mais adequadas para a alergia a pulgas ou atopia. Além disso, acaba por ser necessário tratar doenças secundárias, como infeções de ouvido e infeções de pele.

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O tratamento da atopia representa um desafio enorme, já que é quase impossível evitar o agente alergénico. No caso do prurido ocorrer apenas em alguns meses do ano, podem-se usar medicamentos antipruriginosos ao longo desse período. Mas se a comichão persiste por um longo período de tempo, então é recomendável aplicar uma hipossensibilização. Trata-se duma imunoterapia em que se administram ao cão os alergénios, aos quais reage, em concentração acrescida. A finalidade desta terapia é estimular o sistema imunológico do cão e alcançar a tolerância aos agentes que provocam o prurido. No entanto e lamentavelmente, esta terapia nem sempre obtém o efeito desejado. Pode ser necessário tomar medicação anticoagulante adicional, como cortisona, anti-histamínicos, ciclosporina, ácidos gordos essenciais ou Oclacitinib. Recentemente foi introduzida no mercado uma nova terapia antipruriginosa para a atopia, um anticorpo monoclonal. Esses anticorpos capturam a substância responsável pela comichão na atopia e são metabolizados como as próprias proteínas do organismo. Esta forma de terapia tem sido muito bem-sucedida e, além disso, é muito bem tolerada.

5. Prevenção de alergias

Prevenir uma alergia é muito difícil, já que há uma variedade enorme de fatores envolvidos no aparecimento da mesma. Se o cão tem um tipo de alergia que já conhece, então há probabilidade de outras se lhe somarem. Para evitar a alergia de pulgas, é fundamental estar atento e fazer um tratamento consistente contra pulgas e parasitas. Além disso, é aconselhável alimentar o cão com fontes proteicas variadas. Porém, recomendamos que exclua proteínas exóticas, pois podem ser úteis no caso de ocorrerem alergias alimentares. Como a atopia é uma forma de alergia hereditária, é aconselhável evitar a reprodução entre animais afetados.

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